Cidade dos Vampiros - Capítulo dois
A
festa vai começar daqui a uma hora e será na casa do Bruno. Não gostei da
ideia, pois o Bruno é aquele cara esquisitão da turma que eu desconfio que fuma
algumas coisas estranhas. É só uma suposição minha, mas ele é esquisito mesmo.
Não conversa muito, está sempre na dele... Mas o Luca, o cara que está
organizando as festas, descobriu que os pais do Bruno estariam viajando neste
final de semana e decidiu que a festa tinha que ser lá, pois teríamos a casa só
para nós. Outra coisa que não gostei foi a localização. Não sabia que a casa do
Bruno era tão distante de onde moro. Vou ter que pegar um táxi até lá.
Eu
sempre vou junto com a Jéssica para essas festas, mas desta vez ela vai com o
Sebastian. Ele vai pegá-la de moto, portanto, eu sobrei. Pensei em chamar o
Caio, mas quando consultei o Google Maps, percebi que seria uma contramão e
tanto para ele. Melhor ir sozinha mesmo. Só assim posso voltar a hora que eu
quiser, porque pressinto que não vou gostar dessa festa.
Infelizmente,
minhas suspeitas foram confirmadas. Bruno, o estranho, tem amigos mais
estranhos do que ele. E estão todos aqui na festa, o que quebra as regras, pois
só os amigos da escola deveriam participar. Mas acho que ninguém além de mim
parece ter se importado com isso, porque estão todos dançando no meio da sala.
E alguns estão bebendo. Os móveis foram arrastados para um canto e a sala é
espaçosa o suficiente para que os dezoito alunos mais uns seis colegas do Bruno
fiquem à vontade com as coreografias.
Jéssica
para de dançar e vem me cumprimentar.
— Oi. Você
demorou.
— O taxista meio
que se perdeu. É longe isso aqui.
— É. O Sebastian
se perdeu também, mas deu tudo certo. Vamos dançar?
Sim, dançar era
melhor do que tentar conversar gritando, já que o som estava muito alto.
Entrei no meio da
turma e comecei a dançar. Neguei todas as garrafas de bebidas que me
ofereceram. Aposto que tudo ali estava batizado. Não consegui encontrar o Caio
de imediato. Depois, vi que ele estava aos beijos com a Samara, uma de nossas
colegas. Ela vinha dando em cima dele ultimamente, mas eu pensei que ele não
tivesse interessado. Bom, mas agora, do jeito que as coisas estão ali no canto,
ele parece bem a fim.
Tento me
divertir, danço e converso com algumas pessoas, mas a verdade é que não estou
no clima. Já me desvencilhei de dois garotos que tentarem me beijar, sendo que
um deles estava completamente embriagado.
Depois de passar
duas horas ali, decido que é melhor ir embora. O problema é não ter companhia
para ir pelo menos até o ponto de táxi. Eu teria chamado a Jéssica, mas não
consegui encontrá-la. Deve ter ido para um cantinho mais isolado com o
Sebastian.
Quando o taxista
me trouxe, ele disse que o ponto de táxi ficava logo ali na esquina. E que
teria táxi durante a noite toda. Por isso não me preocupei em ligar, apenas saí
da casa e decidi ir até a lá.
Já na rua,
percebi que estava quebrando todas as regras de segurança. Pois era quase uma
hora na manhã, estava um pouco deserto e a rua na verdade era bem comprida,
portanto, a esquina não estava tão perto assim.
Eu estava um
pouco tensa. Sabia que estava sendo irresponsável por me deixar nessa situação.
A rua estava tão silenciosa que eu escutava meus próprios passos. Eu parecia
aqueles personagens de filmes de terror. Para minha sorte, percebi que o carro
parado próximo à esquina era mesmo um táxi.
Respirei aliviada
e apressei o passo, mas antes que eu pudesse chegar até lá o carro foi ligado.
Corri e gritei. O motorista parou. No entanto, o meu alívio foi embora quando
ele disse que já estava com um passageiro e que logo, logo outro táxi iria
“encostar” ali.
Não havia outra
opção. Eu só podia sentar e esperar. O problema era que eu estava sentindo um
medo tão grande. Não conhecia aquela parte da cidade. Não sabia se era um
bairro perigoso. Mas acredito que, àquela hora, para uma garota sozinha,
qualquer lugar seria perigoso.
Não havia ninguém
na rua. O único barulho que eu ouvia era de uma música ao longe, provavelmente
da festa. E mesmo assim era um som abafado, pois na casa do Bruno estava tudo
fechado, portas e janelas. Estava pensando em tirar o celular do bolso e ligar
para algum táxi quando levei um tremendo susto. Do nada, um casal apareceu bem
na minha frente.
Achei aquilo
superestranho, pois não havia mesmo ninguém na rua. Então, de onde eles tinham
surgido?
— Que corajosa,
sozinha na rua a essa hora — disse o rapaz com uma voz irônica e ameaçadora.
Eu me arrepiei
por inteira. Sabia que ele não era uma boa pessoa. Sabia que estava encrencada.
Eu devo ter feito
uma cara de puro horror, pois a garota que estava ao lado do rapaz gargalhou.
— Está com
medinho? — provocou o rapaz.
— Não, Adan, ela
ainda não está com medinho. Ainda não viu nada — disse a garota se aproximando
de mim.
Por instinto,
levei a minha mão ao bolso da jaqueta que eu usava. Nele havia um canivete que
eu sempre levava comigo. Não por viver me sentindo ameaçada, e sim porque era a
única coisa que me restava da minha mãe. Segundo Morgan, era uma herança de
família. De fato, o canivete parecia uma relíquia antiga. Não era desses que
você encontra para vender atualmente.
A garota era
bonita, mas parecia cruel. Tinha algo de diferente nela, que não consegui
perceber no início, mas assim que ela se aproximou mais de mim, deu um sorriso
sarcástico e fez questão de mostrar suas presas, isso mesmo, presas, percebi
que era uma vampira. Eu só podia estar ficando louca. Aquilo não podia ser
real, mas, pensando bem, aqueles dentes poderiam ser um aplique. Existe louco
para tudo nesse mundo. No entanto, algo me inquietava. Eles surgiram ali do
nada, não foi?
— Isso mesmo,
garotinha. A cara de incredulidade é a melhor parte. “Oh, os vampiros existem”
— ela disse com ironia. E depois completou: — Vou deixar você escolher. Quer
uma mordidinha no pulso ou pescoço?
— Já chega,
Lilith. Você já se alimentou hoje. Agora é a minha vez — disse o garoto se
aproximando de mim também com suas presas à mostra.
Ele ia me atacar,
mas, antes que pudesse fazer isso, peguei o canivete e enfiei em seu peito. Fiz
isso por puro instinto de defesa. Eu não fazia ideia do que estava fazendo.
Mas, por incrível que pareça, surtiu efeito. O vampiro me encarou com cara de
dor. Ele levou a mão ao peito, tentando tirar o meu canivete que ainda estava
preso lá. Mas não demorou muito, o vampiro caiu no chão e, aos poucos, foi se
transformando em cinzas.
A vampira ao meu
lado observava aquilo tão surpresa quando eu. Depois de um tempo, ela olhou
para mim. O sarcasmo havia sumido da sua voz quando perguntou:
— Quem é você?
Eu que não ia
dizer o meu nome.
— Como fez isso?
— Eu não faço
ideia — respondi.
Eu queria pegar o
meu canivete de volta, mas estava com nojo porque ele estava um pouco enterrado
em um monte de cinzas que, aos poucos, a brisa começou a espalhar.
Quando fiz menção
de pegar o canivete, a vampira disse:
— Nem pense em
fazer isso.
Ela se aproximou
do monte de cinzas e chutou o canivete com uma força tão sobrenatural que ele
foi parar muito longe, tão longe que eu não conseguia mais vê-lo. Senti vontade
de chorar. Era a única coisa que tinha da minha mãe para guardar como
lembrança.
Mas, pensando
bem, talvez eu não precisasse me preocupar com lembranças, pois certamente a
vampira não deixaria barato o que eu fiz com o amigo dela.
E agora ela me
olhava. E, por incrível que pareça, não havia ódio em seu olhar, mas surpresa.
Aos poucos, foi surgindo um sorriso em seus lábios. Ela parecia... feliz? Que
loucura.
— Você vem
comigo, garotinha.
— Não vou, não.
— Sim. Não ache
que meus amigos vão querer deixar isso que você fez sem nenhuma punição. Mas,
vou lhe contar um segredo.
Não perguntei
qual era o segredo. Não estava interessada em saber. Eu só queria ir embora.
Principalmente agora que eu soube que havia mais deles.
Estava prestes a
sair correndo quando ela me segurou pelos dois braços. Mãos frias e
extremamente fortes me tocando. Ela poderia quebrar meus ossos se quisesse. Mas
não quis. Ela aproximou os lábios do meu ouvido e disse:
— Eu posso lhe
proteger. Os vampiros vão lhe caçar. Mas eu posso lhe proteger. Apenas não diga
nada do que aconteceu aqui. É um segredo só nosso, entendeu?
Antes que eu
pudesse responder, outro vampiro surgiu na rua. Ele veio se aproximando com um
andar silencioso. Esse vampiro tinha cabelos pretos e olhos azuis, diferente
dos outros dois que eram ruivos e de olhos verdes.
— O que aconteceu
aqui? — ele perguntou se referindo ao monte de cinzas. — Adan?
— Sim. — A
vampira agora usava uma voz de pesar, como se estivesse chorando. — Os
Nephilins o mataram.
— E como você
escapou?
— Eu me escondi.
Ele olhou para a
vampira como que duvidando de suas palavras. Mas, por algum motivo, resolveu
não questionar.
— Se livra logo
dela, Lilith. Precisamos voltar.
— Ela vai
conosco. Vai ser minha escrava.
O vampiro me
olhou como quem analisa um pedaço de carne, para ver se é de qualidade ou não.
— Ela não tem
perfil de escrava, Lilith. Isso vai nos causar problemas.
— Desde quando
você se importa com problemas?
— Eu não me
importo. Mas o Lamon anda pegando muito no meu pé. Preciso dar um tempo com as
confusões. E está bem óbvio que essa garota vai causar confusão.
— Ela vai ser
minha. Eu assumo os riscos.
— Certo. Mas eu
não vou me responsabilizar por isso. Se o Lamon descobrir, você que se entenda
com ele.
— Ele não vai
descobrir. Anda muito ocupado para se importar com uma escrava.
Eu poderia ter
aproveitado esse bate-papo entre os vampiros para dar o fora dali. Mas a
vampira continuava me segurando tão firme que era quase impossível eu conseguir
me mover.
Ela começou a me
arrastar e eu dei um grito. Ia usar todas as minhas forças para continuar a gritar
quando algo me atingiu tão forte na cabeça que eu simplesmente apaguei.
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