Quando as luzes se apagam - Tempestade (Degustação)
Olá, meus queridos leitores!
Hoje trago para vocês uma degustação do meu livro que em breve será lançado na Amazon. Espero que gostem!
A noite chega e o nervosismo me
sufoca. Há trinta minutos, Helen saiu com o meu pai para jantar em um
restaurante que fica próximo ao apartamento onde moramos. No início da tarde,
Helen ficou relutante quando dei essa ideia do restaurante porque ela não
queria me deixar sozinha com o Dan. Mas eu insisti que tudo ficaria bem. Pior
seria conversar com o Dan enquanto o meu pai estivesse em casa, por isso
omitimos tudo dele. Meu pai não precisa se envolver na minha história com o Dan
agora. Não quando preciso resolver tantas coisas primeiro.
Helen disse que ficaria de olho
no telefone o tempo inteiro e que era para eu ligar no primeiro sinal que
percebesse que as coisas não acabariam bem. Eu disse a ela para não se
preocupar, que ficar grudada ao telefone acabaria chamando a atenção do meu pai
e ele desconfiaria de que estávamos escondendo algo.
Ele tinha aceitado numa boa sair
para jantar com a Helen, pois fazia muito tempo que os dois não desfrutavam de
um momento assim, e eu tirei proveito disso para armar meu plano.
Mas agora eu estava aqui, sozinha
no apartamento e fazendo de tudo para controlar a ansiedade. Pensei na minha
filha ficando agitada dentro de mim e isso me forçou a me controlar mais. Eu
tinha que fazer isso por ela. Tinha que garantir que tudo estava bem.
Contudo, toda a técnica que usei
para me acalmar foi pelos ares quando recebi uma mensagem do Dan avisando que
já havia chegado. Meu coração disparou. Dan sempre causou esse efeito em mim.
Abri a porta do apartamento e
fiquei esperando o pai da minha filha sair do elevador. Parecia que os segundos
haviam congelado, pois o tempo não passava e minha expectativa só aumentava.
Dan pareceu surpreso quando me
viu ali, à sua espera.
— Está tudo bem, Aly?
Não sei se foi por me ver ali,
esfregando uma mão na outra ou por causa do meu semblante, que pelo visto
estava pálido, mas Dan pareceu preocupado.
— Sim. Está tudo bem — eu me
forcei a dizer. — Entre. — Fiz sinal para ele me seguir.
Ao entrar no apartamento, sentei
no sofá e convidei o Dan a fazer o mesmo. Minhas mãos estavam trêmulas agora.
Tudo o que eu havia ensaiado estava indo por água abaixo. Toda a minha
segurança se esvaindo...
Não ajudava o fato dele estar absurdamente
lindo, mas ao mesmo tempo tão sombrio em suas habituais roupas pretas. Dan
sempre me pareceu um anjo caído, que tem o dom de me causar admiração por sua
aparência e temor ao mesmo tempo, já que é sempre tão misterioso.
Os olhos azuis, frios como gelo,
agora me olhavam com um pouco de curiosidade e preocupação. Tenho a total
atenção dele, e isso me deixa mais nervosa.
— Imagino que o que você tenha a
me dizer não é nada bom, não é? — pergunta Dan enquanto me observa de perto,
sentando ao meu lado no sofá.
Ele me conhece bem. Sabe das
minhas inseguranças, de como às vezes eu fico nervosa perto dele. E sabe também
como me acalmar só que, no momento, não é isso o que ele faz. Dan apenas me
observa com aqueles olhos que podem ser frios, mas também podem ser quentes.
Olhos que me fizeram ter a sensação de me incendiar muitas vezes. Mas agora há
apenas uma interrogação em seu olhar. Ele aguarda. Apenas aguarda. E eu me
lembro que quem tem que abrir a boca sou eu.
— Eu não sei se você vai
considerar o que tenho para dizer algo bom. Imagino que não, mas...
Coragem, por favor volte.
— Mas? — ele indaga de um jeito
muito sério.
Não sei se é o tom da sua voz ou
o seu olhar, mas minhas muralhas desabam e eu começo a chorar.
Eu estava tentando ser forte,
tentando me controlar, tentando fingir que não estou com medo. Mas é claro que
estou com medo. E justo nesse momento todo o terror que eu senti nos últimos
dias resolve se manifestar em forma de lágrimas. Não faço ideia de como Dan vai
reagir ao que tenho a dizer e isso está me afligindo muito. Imagino que vá
ficar bravo, mas não tenho como ter certeza a não ser que eu fale, que coloque
de vez as palavras para fora. Mas no momento eu sinto tanto medo.
Já vi o Dan perder o controle
muitas vezes. Já o vi chutar e derrubar móveis enquanto estava enfurecido e não
quero ver isso de novo.
Será que ele ia quebrar alguma
coisa? Algo a mais além do meu coração?
— Aly? Seja lá o que for, é
melhor você falar logo — Daniel diz. Paciência nunca foi o seu forte e eu sei
que preciso dizer alguma coisa antes que ele simplesmente vá embora.
Ele não faz nenhum gesto para me
consolar e eu sei que isso não é um bom sinal. Geralmente, quando me vê chorar,
ele sempre me consola, me oferece apoio. Mas não nesse momento... É como se soubesse
que estou prestes a irritá-lo.
E no fim das contas é melhor
assim, melhor que fique longe. Não quero suas mãos no meu corpo agora. Se me
abraçar, Dan vai perceber minha barriga. Já dá pra notar. Ele só não percebeu
ainda por causa da roupa que estou usando, uma blusa soltinha que não marca
nada, mas se ele colocar as mãos na minha cintura, vai perceber.
Respiro fundo e seco as lágrimas.
Dan tem razão. O melhor que eu faço é falar logo. Não posso passar toda essa
tensão para o bebê em meu ventre. Preciso acabar logo com isso e dar um jeito
de me acalmar.
— Estou grávida — digo num
sussurro e sem olhar para ele.
Não posso olhar para ele agora.
Não consigo lidar com que quer que for que eu veja em seus olhos neste momento,
porque eu tenho certeza de que não vai ser um sentimento bom.
O tempo passa. Os segundos se
estendem. Parecem minutos, horas, mas eu sei que não pode ter passado tanto
tempo assim.
Ele não diz nada. Será que me
ouviu?
— Aly... O que você disse?
Sim, ele ouviu. A sua voz de gelo
não me deixa dúvidas. Ele está tentando se controlar. Quando o Dan fala
pausadamente significa que ele está... furioso.
O que tiver que ser, é melhor eu
enfrentar logo, por isso finalmente olho para ele e concluo:
— Eu engravidei naquela noite que
passamos juntos.
Mais silêncio. Só que agora eu
não desvio o olhar.
— Você disse que não havia essa
possibilidade — ele continua falando pausadamente. Isso não é bom.
— Eu menti.
Mais silêncio. Desse jeito essa conversa
não vai acabar nunca. E eu preciso que ela acabe para poder voltar a respirar.
Aguardo sua reação.
Nenhum grito.
Nenhum móvel quebrado.
Será isso um bom sinal?
Será que posso respirar agora?
— Aly, diz que isso não é
verdade, por favor — ele suplica.
É dor que ouço em sua voz? Não
sei o que pode ser pior nesse momento.
Junto coragem e tento me
aproximar dele, talvez toca em suas mãos, e sim, é dor o que vejo. E para meu
espanto, seus olhos estão cheios de lágrimas. Mas o Dan nunca chora. Pelo menos
não na minha frente.
Agora ele observa minha barriga.
Claro que não dá para notar nada, a roupa disfarça. Inconformado, ele se
aproxima de mim e, lentamente, põe a mão debaixo da minha blusa.
Sinto medo, mas permito que ele
me toque. Ele precisa ter certeza porque parece que minhas palavras não foram
suficientes.
Agora, são suas mãos que estão
trêmulas. Nunca vi o Dan nesse estado. Eu afasto sua mão e me levanto,
finalmente soltando a respiração que eu prendia enquanto ele me tocava.
— Por que você não me falou
antes, Aly? — Percebo que ele está ficando desesperado, está assimilando a
notícia aos poucos.
— Porque você me pediria para
abortar. Foi o que você disse — justifico.
— Era o melhor a ser feito. Era o
que você devia ter feito — sua voz se eleva.
— Não. Não era. Eu quero essa
criança, Dan. Independentemente do que você ache, eu quero essa criança. —
Preciso ser forte. E preciso convencê-lo de que fiz o que deveria ser feito.
— Você só pode estar louca.
— Escuta, Dan. Nós não planejamos
nada disso, não foi? Mas, aconteceu. Eu não planejei dormir com você naquela
noite. Não esperava que nada disso acontecesse, ainda mais daquela forma, mas,
se teve que ser assim, e eu não podia fazer nada para mudar, então... Eu tive que
aceitar.
— Você não tinha que aceitar
nada, Aly! — ele grita. — Essa era uma situação que você podia reverter...
— Não! Eu jamais faria um aborto!
Se você não quer assumir essa criança, tudo bem, mas não venha me dizer que
quer minha filha morta!
— Filha?
— Sim. Filha. É uma menina.
A mais nova revelação parece deixá-lo
em choque.
— Não dá para acreditar que você
escolheu isso, Aly.
O olhar de Dan está ensandecido,
mas não vou me retrair. Não posso fazer isso agora. Tenho que convencê-lo de
que fiz a escolha certa, não o contrário.
— Na verdade, eu não tive
escolha. Eu saí para minha festa, seu amigo me drogou e eu acordei na sua cama.
Eu não escolhi nada. Mas, não é a minha filha quem vai pagar por isso.
— Você já decidiu tudo, não é?
— A única coisa que eu decidi é
que a minha filha não vai morrer. O resto eu quero decidir com você. Foi para
isso que eu lhe chamei aqui. Você tem duas opções, Dan: sair por aquela porta e
não me procurar nunca mais ou aceitar que vai ser pai.
— Você não pode me encurralar
dessa forma — ele diz num tom de voz mais brando, recuperando a compostura. Mas
não deixo de perceber a raiva por achar que está sendo ameaçado. Ele não está acostumado
a ser colocado contra a parede.
— E você não podia ter transado
comigo enquanto eu não tinha consciência de nada. E mesmo assim você fez. — Não
vou deixar que ele me intimide. Por isso uso algo que sei que vai causar dor
nele.
E é o que acontece. Por um
momento ele não consegue falar nada, mas depois se recupera e diz:
— Eu também não estava em meu
estado normal!
— Eu não tenho como saber! —
acuso sem piedade.
— É uma vingança, Aly? Você está
fazendo isso para me destruir?
Isso está me destruindo também,
mas minha filha merece que eu lute.
— Estou fazendo o que é certo.
Estou assumindo a responsabilidade por ter gerado uma criança. Se você vai
fazer o mesmo eu não sei, mas não pode me impedir...
— Chega, Aly! Chega! — ele grita.
— Eu não tenho condições de conversar com você agora.
Vejo raiva, mágoa e desespero em
seu olhar. Preciso pegar leve ou isso não vai acabar bem.
— Tudo bem. Eu entendo que você
precisa digerir a informação. A gente conversa outra hora. É melhor você ir...
Para minha surpresa, sem ao menos
olhar para mim, Dan abre a porta e vai embora.
Não foi a melhor reação do mundo,
mas também não foi tão ruim quanto imaginei. Por enquanto.
Quando as luzes se apagam - Tempestade é o tercero livro de uma trilogia. Os dois primeiros livros já estão disponíveis na Amazon através deste link.
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