Resenha do livro Cinco Dias


Cinco Dias, romance de estreia da autora Julie Lawson Timmer, traz uma história muito forte. Fiquei refletindo muito durante a leitura e mais ainda depois dela.

Acho que faz um pouco mais de um mês que terminei de ler este livro e sempre que paro para escrever sobre ele fico meio perdida, sem saber ao certo o que falar a respeito de uma história tão marcante.

A história gira em torno de Mara e Scott, eles não se conhecem pessoalmente, apenas fazem parte de um grupo em uma rede social. O grupo é voltado para pais adotivos, e a identidade de cada um é preservada, eles inclusive usam nomes fictícios. Compartilho a seguir a história de Mara e a história de Scott:

Scott é diretor de uma escola. Antes disso ele foi treinador de basquete de um garoto cuja família era bastante desestruturada. Bray se tornou um talento no basquete e conseguiu entrar para uma excelente faculdade. Mas, poucos meses depois de entrar na faculdade, sua mãe foi presa e o irmão mais novo de Bray, um garoto de oito anos chamado Curtis, não tinha com quem ficar. A solução seria Bray largar a faculdade para tomar conta do garoto ou arrumar um lar temporário para ele.

Ao relatar o problema ao seu antigo treinador, Scott logo se propôs a cuidar de Curtis durante um ano, que era o período em que a mãe dos garotos ficaria presa. Durante esse ano, Bray pôde estudar tranquilamente em sua faculdade e Curtis ganhou um lar bem diferente do que estava acostumado. Ele tinha um quarto decente, educação de qualidade, pais amorosos, alimentação adequada e tudo o que uma criança merece e necessita. 

O dilema de Scott foi quando esse período de um ano acabou. Ele se apegou demais ao garoto e sentia muita tristeza ao saber que Curtis voltaria a um lar completamente diferente do que ele e sua esposa havia fornecido ao garoto. Ninguém sabia ao certo como a mãe do garoto, que era viciada em drogas, voltaria. E a tristeza de Scott era ainda maior porque enquanto ele não desejava de modo algum devolver o garoto, sua esposa, Laurie, mal via a hora desse momento chegar. Não que ela não gostasse de Curtis, ela havia tratado bem o garoto durante todo aquele ano, desempenhou o papel de mãe, mas ela estava ciente que isso duraria apenas um ano e depois disso ela seguiria com outros planos. Laurie estava grávida e depois que Curtis fosse embora, ela desejava ter um descanso merecido até sua bebê nascer e depois continuar sua vida normalmente ao lado de Scott e sua própria filha. 

Scott entendia Laurie, mas ao mesmo tempo ficava magoado por ela "querer" que Curtis fosse embora. Laurie entendia Scott, mas acreditava que apesar de todos os problemas, o melhor era Curtis ficar com sua família legítima. Ela também se magoava por Scott demonstrar mais preocupação com Curtis do que com sua bebê que estava para nascer.

No final, mais um desafio aparece na vida do casal. Eu entendi a tristeza de Scott, mas não pude deixar de ficar indignada com a falta de apoio que ele deu à esposa em um momento delicado. 

A história deles é de amor e superação. Vale muito a pena conhecer.

A história de Mara é mais difícil ainda. Ela era uma advogada bem-sucedida, casada com um homem incrível, Tom, e mãe adotiva de uma garotinha chamada Lakshmi. Tudo corria bem na vida de Mara até ela começar a sofrer de esquecimentos e alterações de humor fortíssimas. Depois de um ano vivendo e tentando fingir que nada de errado estava acontecendo, ela decidiu ver um médico. O choque foi quando ela descobriu que o que estava acontecendo era mais grave do que sua família imaginava: Mara foi diagnosticada com a doença de Huntington, uma doença hereditária que provoca a degeneração progressiva de células nervosas do cérebro. 

Ao estudar sobre a doença e visitar pacientes em estado terminal, Mara decidiu que não chegaria a esse estágio, ela decidiu que dali a cinco anos, se mataria. Segundo ela, não era justo submeter a família ao sofrimento causado pelas consequências da doença. Mara não queria ser um fardo.

A história da Mara nos faz refletir muito. Eu não acho que ela foi egoísta, simplesmente algumas pessoas não conseguem lidar com o fato de sentir seu corpo ir morrendo aos poucos até chegar a um estado vegetativo. Durante muito tempo Mara refletiu se conseguiria lidar com tudo aquilo, mas experiências constrangedoras como fazer xixi nas calças em pleno supermercado e andar se desequilibrando aparentando estar bêbada fez com que Mara achasse que seguir com seu plano fosse o melhor a fazer.

Nos últimos cinco dias Mara planejou minuciosamente o que faria para morrer. Não permitiu que ninguém desconfiasse. Ela se aproximou mais de seu esposo e sua filha, o que fez com que várias vezes pensasse em desistir. Na verdade, apesar de planejar tudo, Mara ainda estava indecisa em seguir adiante. Tom a amava muito e cuidava dela com todo amor e carinho. Sempre a apoiou. Foi um marido exemplar.

Diante de sentimentos perplexos, o dia se aproxima. Será que Mara terá coragem de fazer o que planejou?

Recomendo muito esse livro. Vale a pena refletir sobre os conflitos presentes na história. Com certeza refletiremos também sobre nossas vidas e ficaremos desejosos de fazer os ajustes necessários.