O Taxista (Amostra)
O Taxista é um conto que escrevi e seu e-book está disponível na Amazon.
Um acontecimento lamentável havia mudado a vida de Clara. Ela não sabia o que seria de seus dias dali para frente. Seu casamento se aproximava do fim. Mas, Clara sequer podia imaginar que o percurso de táxi que a levaria até o encontro com seu ex-marido mudaria drasticamente o seu modo de pensar e de agir.
Veja uma amostra:
Veja uma amostra:
— Mamãe, mamãe, ele chegou!
Sabrina entrou correndo no quarto
de Clara enquanto a mãe terminava de escovar os cabelos em frente ao espelho.
Ela quase não se reconhecia. Estava mais magra e com o olhar vazio. Será que um
dia seria capaz de sorrir novamente?
— Mamãe... — a menina chamou mais baixo dessa
vez. Um pouco assustada ao ver a mãe imóvel diante do espelho.
— Oi, querida, eu ouvi. Já estou indo — falou Clara com um sorriso forçado no rosto. A quem ela queria
enganar?
Clara deu um beijo na filha e
disse:
— Volto logo.
— Você vai encontrar o papai? — perguntou a menina entusiasmada.
— Sim, querida.
— Ele vai voltar?
— Não, meu bem. Nós já conversamos sobre isso.
— Eu sei que ele vai voltar! Eu
pedi ao meu amigo anjo que trouxesse ele de volta!
— Sabrina, pare — falou Clara com firmeza. — Nós já conversamos um milhão de vezes sobre isso. O papai e
a mamãe
ama você.
Nós
sempre vamos amar você. Mas simplesmente não podemos mais ficar juntos. — Clara abraçou a filha para que ela não percebesse as lágrimas que ameaçavam cair. Mas a menina, esperta,
percebeu o gesto da mãe.
— Não chore, mãezinha. Ele vai voltar. Eu sei.
Clara não queria discutir esse
assunto mais uma vez. Não naquele momento. Ela estava indo encontrar Roberto
para acertarem os últimos detalhes do divórcio.
Há um mês o marido havia saído de
casa. Há um mês o mundo de Clara havia desabado. Ela se obrigava a cada manhã a
ficar de pé e cuidar, como podia, dos afazeres diários. Tinha uma filha para
criar, tinha um emprego e muitas responsabilidades a cumprir. Não podia
simplesmente desistir de tudo, embora, no íntimo, essa fosse a sua vontade. Ela
se sentia exausta. Não aguentava mais os comentários dos familiares e amigos
dizendo “Isso vai passar”, “Você vai ficar melhor sem ele”, “Eu lhe disse que
ele não prestava”. Nada disso servia de consolo, pelo contrário, só deixava
Clara mais irritada e com vontade de se afastar de todo mundo.
Clara respirou fundo, contou
mentalmente até 10 e saiu de casa. O taxista estava à espera.
— Bom dia! — ele falou com um sorriso gentil,
enquanto abria a porta para ela.
— Bom dia — cumprimentou Clara sem muito
entusiasmo.
O interior do carro tinha um
perfume agradável. Clara imediatamente reconheceu o cheiro. Tinha o cheiro da
sua infância. Casa da avó, abraço apertado do avô e brincadeiras com os primos
no quintal. Quando a vida havia deixado de ser tão simples? Agora as lágrimas
corriam livremente. Não se importava com o taxista. Não se importava em
reprimir mais nada. Agora, longe da filha, podia finalmente desmoronar.
O taxista aguardava pacientemente
que Clara lhe informasse o destino. Quando ela finalmente percebeu isso, disse
um pouco sem jeito:
— Desculpa. Parque São Carlos.
— Não se preocupe — respondeu o taxista e pôs o carro em movimento.
***
O dia estava ensolarado, mas não
muito quente. Clara havia enxugado o rosto que havia ficado encharcado de
lágrimas e olhava através da janela o movimento habitual das ruas. Ela estava
mais calma, sentia apenas o vazio dentro do peito que agora era seu companheiro
constante. Quando o motorista parou no semáforo, um jovem casal atravessou pela
faixa de mãos dadas e sorrindo um para o outro. Clara se lembrou de quando
Roberto e ela eram como aquele jovem casal. Despreocupados, felizes, passeando
de mãos dadas pelas ruas da cidade. Não era preciso muito para eles ficarem
felizes naquela época. A companhia um do outro bastava. Eles começaram a
namorar ainda no Ensino Médio. Eram jovens e imaturos, mas se amavam e estavam
dispostos a ficarem juntos para o resto de suas vidas. Durante muitos anos esse
fora o objetivo de vida deles. Durante muitos anos Clara acreditou que esse
sonho seria realidade.
— Dia lindo, não? — perguntou o taxista.
Clara não estava a fim de
conversa e apenas acenou, embora não tivesse certeza se o taxista tivesse visto
ou se já tinha voltado sua atenção ao trânsito.
— É um bom dia para ir ao parque — insistia o taxista em puxar
conversa.
Dessa vez, Clara pensou que
conversar um pouco seria bom. Pela primeira vez, ela olhou para o taxista com
mais atenção e percebeu que ele era bem jovem.
— Sim, eu gosto do parque São Carlos, embora hoje não esteja sendo um bom dia. — Na verdade, Clara não fazia ideia se seus dias
voltariam a ser bons...
— Sim, eu percebi. Quer conversar
sobre o assunto?
Clara não queria conversar sobre
o assunto. Ainda mais com um desconhecido. Mas, de repente, ela percebeu que
precisava desabafar. E era até melhor que fosse com um estranho. Não iria vê-lo
novamente mesmo. E ele já a tinha visto tão vulnerável, chorando feito louca no
banco traseiro de seu carro. Não havia mais do que se envergonhar.
— Meu marido me traiu. Estamos nos
divorciando. Na verdade, estou indo encontrar com ele para acertarmos os últimos detalhes do divórcio. É a primeira vez que vamos nos encontrar
pessoalmente depois... Depois que ele saiu de casa. — As lágrimas ameaçaram cair novamente. Clara não pretendia ter dado tantas
informações,
mas agora que começou, ela queria desabafar, colocar para fora tudo o
que a estava sufocando nos últimos dias. Portanto, continuou:
— Ele era um bom marido, sabe? Eu
jamais poderia imaginar que ele pudesse fazer algo assim! Nós temos uma filha, tínhamos uma família... Será que ele não percebeu que iria destruir
tudo? Será
que isso não
importa para ele?
— Tenho certeza de que ele se
importa — falou o
taxista de modo complacente.
— Como? Você nem o conhece!
— Você mesma disse que ele era um bom
marido. E, eu vi o modo como você chorou. Se fosse por alguém que não valesse a pena eu acho que você não estaria assim. Se ele era um
bom marido, acredito que ele também esteja sofrendo.
— Mas foi uma escolha dele! Ele
acabou com a nossa família!
— Às vezes a gente age sem pensar
nas consequências —
refletiu o taxista. —
Como você
descobriu a traição?
Clara não sabia se queria reviver
tudo aquilo... Mas ela já havia começado a contar tudo mesmo.
— Eu escutei uma ligação tarde da noite. Eu havia
acordado e percebi que ele não estava na cama. Fui atrás dele e percebi que ele falava
com alguém
ao telefone. Achei estranho uma ligação àquela hora, e fiquei escutando sem que
ele percebesse. Ele falava baixo e não dava para entender tudo, mas percebi que
ele dizia para a outra pessoa deixá-lo em paz, que não havia significado nada.
Entendi tudo de imediato. Voltei para a cama com o coração a mil. Fingi que
estava dormindo quando ele voltou. E quando ele pegou no sono eu levantei e fui
verificar as mensagens no celular dele.
“Claro que ele havia apagado
muitas mensagens, mas as últimas ainda estavam lá. Era uma colega de trabalho.
Eles haviam dormido juntos.
Comecei a chorar
descontroladamente e ele acordou. Me viu com o celular na mão e entendeu tudo.”
— E qual foi a reação dele?
— Ele chorou também. Disse que não havia significado nada, que se
arrependeu... Mas se não havia significado nada, por que aconteceu?
— Como eu falei, às pessoas não costumam pensar nas consequências... Agem por impulso. — Depois de uma pausa, o taxista
perguntou: — O
casamento de vocês estava passado por um momento difícil, não? Digo, antes da traição?
— Ah, não. Você não vai me dizer que isso era
motivo...
— Não. Não estou tentando justificar a
atitude dele. Nem estou dizendo que ele agiu de modo certo. Ele errou. Mas você não tem interesse em saber o que
deu brecha para que uma pessoa entrasse no casamento de vocês?
— Eu já me questionei inúmeras vezes. Nós estávamos nos desentendendo um pouco.
Estávamos
cansados, estressados, mas isso não era motivo. Eu também não estava feliz, mas jamais pensei
em traí-lo.
— Não, Clara, claro que não há nada que justifique. Mas as
pessoas pensam de modo diferente, sabe? Principalmente os homens.
— Eles já estavam flertando há um tempo. Antes mesmo do nosso
casamento entrar em crise. Uma outra colega de trabalho dele me falou.
— Veja bem. Quer um conselho?
Não havia motivos para recusar.
Clara já havia exposto toda a situação para aquele desconhecido mesmo. Ela
acenou com a cabeça.
— Não envolva mais ninguém nessa história. Não procure saber com os colegas de
trabalho dele o que aconteceu. Nem procure informações sobre essa mulher.
Simplesmente não procure saber nada sobre ela. Converse com o seu marido.
Converse abertamente, sem brigas, sem discussão nem acusações. Não o questione
sobre a traição. Talvez ele nunca tenha uma resposta satisfatória para lhe dar.
Talvez nem ele mesmo entenda os motivos que o levou a praticar tal ato. Talvez
ele só quisesse um momento de refúgio. Claro, ele não podia ter feito escolha
pior, mas, no momento, isso não ocorreu nos pensamentos dele. Ele não avaliou
as consequências.
“Um homem sofre por sua família.
Embora todos digam que as mulheres são mais sensíveis, que sofrem mais... Isso
não é de todo verdade. Os homens são muito sensíveis também. Mas eles não lidam
com os sentimentos da mesma forma que as mulheres.
“Quando um homem se casa, ele se
sente responsável pela sua família. Mesmo que a mulher trabalhe fora, ele quer
ser o principal provedor do lar. A responsabilidade pelo bem-estar da família é
dele. Mesmo que a mulher assuma mais responsabilidades, esteja à frente da
organização do lar, da educação dos filhos, passe mais tempo com as crianças,
etc., o homem sente que é função dele supervisionar para que tudo esteja bem.
Quando as coisas não vão bem, mesmo que as mulheres pensem que seus maridos estão
muito omissos, na verdade eles não estão. Estão buscando meios de resolver a
situação. Quando eles não conseguem encontrar soluções, eles se afastam
fisicamente. É o orgulho de reconhecer que estão falhando. Que não estão
cumprindo bem o seu papel. Mas, pode ter certeza, eles estão sofrendo.”
“Geralmente, em momentos de
crise, a esposa só consegue enxergar os defeitos do marido, o que há de ruim na
relação, e fecha os olhos para as pequenas coisas boas que o marido está se
esforçando em fazer. Ele se sente um fracasso. Em contrapartida, no trabalho,
há uma colega que está satisfeita e maravilhada com tudo o que ele faz e não
cansa de elogiá-lo. Um homem precisa de elogios. Ele precisa de reconhecimento
pelo que faz. O seu marido pode até nem ter se apaixonado por essa colega. Ela
apenas satisfez o seu ego e forneceu o que ele mais precisava no momento.”
“Se o seu marido diz que não foi
nada importante, pode ser que ele esteja falando a verdade. Isso não diminui o
erro, nem justifica, mas pelo menos esclarece um pouco mais as coisas, não
acha?”
Clara estava surpresa com a
sabedoria do rapaz. Ele parecia muito jovem para ter toda aquela experiência.
Como se adivinhasse seus pensamentos, o taxista falou:
— Pego muitos passageiros por dia.
Acredite, eu já ouvi todo tipo de história. Inclusive de casais à beira do
divórcio.
Clara não sabia o que dizer.
Estava refletindo sobre muitas coisas. Parecia passar um filme em sua mente
sobre a sua história com Roberto. Os momentos felizes, o dia do casamento, o
nascimento da filha, os momentos de intimidade... Ela também se lembrou das
brigas, do afastamento, e percebeu também que ela não estava fazendo muitas
coisas para salvar a relação. Sempre estressada quando o marido chegava em
casa. Sempre o acusando por tudo de ruim que acontecia no dia a dia deles.
— Você já pensou — continuou o taxista
interrompendo o devaneio de Clara —,
que o divórcio
talvez não
seja a melhor solução?
— Eu jamais seria capaz de perdoar
uma traição.
— E você acha que vai ser mais feliz
convivendo anos e anos com o seu orgulho ao invés de aprender a perdoar?
***
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