Cidade dos Vampiros
Depois de um tempo tentando me
recuperar, começo a andar de um lado para o outro do quarto tentando entender o
que foi que aconteceu. O meu sangue. Só pode ter sido isso. Deixar um vampiro
sugar o seu sangue faz você perder o controle. Será? Mas isso não aconteceu
quando a Lilith se alimentou de mim. Mas, naquela ocasião eu estava tão fraca e
à beira da morte que não tinha como sentir outra coisa que não fosse dor.
Estou agitada e não consigo
dormir. Minha mente está confusa. Preciso fazer alguma coisa para colocar meus
pensamentos em ordem. Então, me lembro da carta. Procuro por ela em todo o
quarto, mas não a encontro. Em algum momento, não sei exatamente qual, Nikolay
a pegou. Isso me tranquiliza, saber que Morgan finalmente terá notícias minhas.
Volto para a cama, dessa vez com o livro que Nikolay deixou, e leio até pegar
no sono.
***
Nos dias seguintes Nikolay nem me
tocou. Aquela cena bizarra não voltou a se repetir. Ele trazia a comida,
conversávamos um pouco, ele pegava as cartas que eu escrevia e ia embora.
Nas cartas, eu dizia a Morgan que
tinha fugido com um rapaz que tinha conhecido na Internet. Sei que ela não
acreditaria nisso, era ridículo, mas pelo menos saberia que eu estava
escrevendo e que eu estava viva e, de certa forma, bem.
Eu sabia que Nikolay lia as
cartas. Como ele não me conhecia, podia achar que essa história pudesse
convencer a Morgan. Então, eu estava mais ou menos satisfeita.
Eu conversava mais com Nikolay
agora. E certa vez perguntei se realmente eu poderia ir embora dali um dia. Ele
disse que sim, mas antes eu precisaria da aprovação do Lamon.
Só que essa aprovação estava
demorando muito a chegar. Por um momento cheguei a pensar que esse Lamon fosse
um mito, uma lenda, algo que não existe, que ninguém nunca viu... sei lá. Onde
poderia estar esse cara?
Depois de alguns dias, Nikolay
desistiu de ser ético e nós voltamos a trocar alguns amassos na cama. Nos
beijávamos até cansar, ele bebia o meu sangue depois me dava mais beijos, mais
sangue, mais beijos... Ficávamos nessa troca só que ele nunca permitia que
avançássemos muito. E era sempre ele a recobrar o controle da situação porque
eu me entregava e me perdia por completo.
Nós também fazíamos planos. Eu
disse a ele que, quando eu voltasse para casa, permitiria que ele me visitasse
e tomasse do meu sangue. Eu estava começando a fantasiar coisas, até me
imaginava no meu antigo quarto, observando Nikolay entrar pela janela de
madrugada e vivendo um amor proibido, enquanto Morgan dormia no quarto ao lado.
Sim, eu estava me apaixonando. E se não fosse pelo fato de estar longe da
Morgan e dos meus amigos, eu poderia até dizer que estava recomeçando a ser
feliz.
Mas, o temível dia chegou. Lamon
estava de volta e queria me conhecer.
Nikolay chegou todo tenso no
quarto e disse que teríamos um jantar com ele. Pediu que eu vestisse o melhor
vestido que encontrasse no guarda-roupa. Eu suspeitava que as roupas que eu
vestia haviam pertencido a Lilith, mas nunca perguntei isso ao Nikolay. Fiz o
que ele pediu e me arrumei da melhor forma que pude. Não via motivos para isso,
mas Nikolay disse que Lamon gostava de luxo e sofisticação. Também não entendia
como vampiros podiam comer, já que ele mencionou que o encontro seria em um
jantar, mas Nikolay disse que Lamon gostava de tratar de assuntos importantes
dessa forma, oferecendo um delicioso banquete aos convidados. Eles só bebiam
sangue em taças, mas os convidados humanos sempre tinham uma farta refeição.
Nesse caso, a única humana seria eu, e eu não fazia ideia do que me aguardava
nesse encontro. Só sabia que Nikolay iria implorar pela minha vida e para que
eu fosse libertada.
Nikolay nunca me disse nada
romântico, mas eu acho que ele também estava se apaixonando por mim. Ele se
preocupava comigo e zelava pelo meu bem-estar. Cuidava de mim e fazia com que
eu me sentisse protegida. Eu me sentia especial ao lado dele.
Eu tinha terminado de me arrumar
quando Nikolay voltou ao quarto e disse que o momento de conhecer Lamon havia
chegado. Desci com ele as escadas e ele segurou em minha mão até que
estivéssemos na rua. Lá havia um carro. Um carro mesmo, de verdade, nos esperando.
Achei a cena um tanto surreal. A Cidade dos Vampiros se assemelhava a uma
cidade medieval com aqueles castelos de pedra e ruas de paralelepípedos. Um
carro ali parecia tão fora de contexto.
Nikolay abriu a porta traseira do
carro. Eu entrei, me sentei e esperei que ele fizesse o mesmo. Mas, ele apenas
fechou a porta, ficando do lado de fora. A janela do carro estava aberta, ele
se aproximou um pouco dela e disse:
— Adeus.
Por um momento, fiquei confusa, sem
entender a atitude dele. E quando ele voltou a falar, não era para mim a quem
se dirigia, e sim ao motorista.
— Diga ao Lamon que eu cuidei
dela em sua ausência. Ela não está ferida e foi bem tratada.
— No entanto, você se alimentou
dela — disse o motorista.
— Não pude evitar — Nikolay
respondeu com um sorriso irônico. — Mas ela permitiu. Não foi nada forçado.
O motorista me olhou como se
esperasse que eu assentisse e confirmasse que não fui maltratada. Mas eu estava
em choque. As coisas não estavam tomando o rumo que eu imaginava.
— O que está acontecendo? —
perguntei ao Nikolay.
A resposta que ele me deu foi
simples e curta.
— Lamon a quer. E eu estou apenas
dando a ele o que ele quer.
— Nós íamos embora daqui! Não era
isso o que você iria pedir a ele?
Nikolay sorriu. Sorriu mesmo. Um
sorriso que revelava tudo.
E eu finalmente entendi.
Ele nunca tinha planejado me
levar embora. Estava me enganando o tempo todo, mentindo o tempo todo. Só estava
me mantendo prisioneira até que o seu líder voltasse.
— Tenho uma coisinha para você
levar — disse Nikolay me entregando uma pequena caixa. — Abra.
Com as mãos trêmulas eu a abri. Dentro
dela tinha vários envelopes. Percebi que eram todas as cartas que eu havia
escrito para Morgan. Nikolay nunca as entregou. Morgan nunca tinha recebido
notícias minhas.
Lágrimas caíram pelo meu rosto.
Eu não queria que ele tivesse o prazer de me ver chorar, mas não pude evitar. Eu
estava me sentindo destruída.
— Você me enganou o tempo todo.
Eu achava que estávamos apaixonados. — Minha voz era apenas um sussurro.
Dessa vez ele não apenas sorriu,
mas gargalhou. E esse som atingiu meu coração como se eu tivesse enfiado o
punhal da luz nele.
— Aprenda uma coisa, querida — Nikolay
disse com o rosto bem próximo ao meu. — Agora que você vai conviver com o
Lamon, vai precisar saber disso: vampiros
não têm sentimentos. Vampiros não sabem o que é paixão. A única coisa que
nos interessa é sangue. E o seu até que me satisfez por um tempo.
Dito isso, ele fez sinal para que
o motorista partisse e, sem olhar para trás, voltou para o seu castelo.
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